Curso Paulo Freire promove trabalho voluntário na UFC

O GRUPE conversou nesta semana com os diretores do Curso Paulo Freire, projeto da Faculdade de Direito da UFC, regularmente cadastrado na Pró-Reitoria de Extensão. Kílvia Arruda e Deivison Ferreira, que trabalham no cursinho pré-vestibular junto a outros 22 professores, também alunos da Universidade Federal, revelaram ao nosso repórter o significado do trabalho voluntário no universo acadêmico e sua relevância no crescimento pessoal e profissional daqueles que se envolvem em atividades sociais.



Kílvia Arruda ao lado de outros professores e do
orientador do projeto, Fernando Basto Ferraz



Como surgiu a ideia de organizar um projeto focado no trabalho voluntário dentro da Faculdade de Direito?

Kílvia: O Curso Pré-Vestibular Paulo Freire surgiu a partir do anseio de jovens estudantes do curso de Direito que pretendiam alargar suas experiências universitárias.Estes não se satisfaziam em dividir um conhecimento formalizado dentro do âmbito de sala de aula,percebendo que havia tão grande necessidade social por uma educação de qualidade.

É inevitável aqui contextualizar o quadro educacional brasileiro: indiscutivelmente, percebe-se o crescimento do setor privado de ensino,não apenas em quantidade como em nível qualitativo,em detrimento  do setor  público,quando professores são mal remunerados e o ambiente escolar apresenta uma precária estrutura.O que fazer? Creio ter sido esta a indagação inicial do grupo de estudantes que buscaram efetivar nosso projeto.Tomar medidas capazes de sanar essas “desigualdades” através da perspectiva paulofreiriana que busca educar como prática de libertação.

Embora, inicialmente, o projeto em nada se aliasse à área jurídica, os alunos buscavam experimentar uma nova realidade e inovar os parâmetros educacionais ao elaborar uma “educação solidária”.

Deivison: Imagino que tenha sido a necessidade de uma maior atuação na nossa sociedade que propiciou para que um grupo de estudantes tenham tido essa ideia. Muitas vezes ao ligar a televisão, ou ao ler um jornal, somos bombardeados com informações e notícias que são desanimadoras, a sensação que temos é que a cada dia que passa vivemos em uma mundo pior. E o espírito do individualismo, do “é cada um por si” vem cada vez mais ganhando espaço. A filosofia do projeto do Curso Paulo Freire vem para destronar tal concepção. Conheço pouco sobre a História do curso, e principalmente seus fundadores, mas tenho certeza de que quando a ideia de se criar o projeto foi posta à mesa, o “espírito” que prevaleceu não foi o do individualismo, mas sim, o do Protagonismo Social. Ficar em casa reclamando do mundo atual é fácil, fazer alguma coisa para mudar essa mesma realidade é que difícil... mesmo que minimamente, posso dizer que trabalhamos por uma sociedade mais justa!

Como o trabalho voluntário é percebido no meio acadêmico?

Kílvia: Felizmente,o trabalho voluntário hoje tem tomado notável abrangência no meio acadêmico.Cada vez mais, percebe-se a implantação de projetos que buscam aliar as experiências universitárias à comunidade.

O incentivo da Universidade ao estabelecimento destas iniciativas é fundamental, não se pode vislumbrar alunos interessados em participar unicamente das aulas. Mesmo o mercado de trabalho tem privilegiado estes profissionais participativos que buscaram ao longo de seu período universitário tornar “aplicáveis” seus conhecimentos.

Como você avalia a repercussão desse trabalho na formação profissional dos estudantes da UFC?

Kílvia: Como já mencionei anteriormente,é comumente considerada positivamente a experiência participativa discente.O mercado profissional compila tais estudantes, tendo em vista a preocupação destes em estreitar os laços entre teoria  e prática.Em alguns casos, a carreira docente, analisando o Curso Paulo Freire, não está ligada diretamente às  atividades que os universitários desempenharão, motivo ainda maior para que estes sejam vistos como profissionais integrados ao  ambiente social.

Deivison: É bem mais recompensador do que podemos imaginar, todas as vezes que saio do projeto para voltar para minha casa, sinto que cresci como pessoa. Os ganhos são inimagináveis! E ao mesmo tempo, impossível de explicar, só quem vive, ou viveup, ara saber o que eu estou falando.

Corpos discente e docente, reunidos em sala de aula

Que interferência a proposta educativa do  Curso Paulo Freire tem na formação dos alunos e na inserção no mercado de trabalho?

Deivison: A proposta paulofreiriana veio para romper barreiras que são bem consolidadas. A própria ideia de que ninguém está acima de ninguém, e de uma horizontalidade pedagógica onde “estudantes” e “professores” estão em um mesmo patamar, já é um bom exemplo.  O Curso Paulo Freire tem uma proposta de um estudante ativo, e não um mero receptáculo de conhecimento onde você chega e deposita a informação necessária (a conhecida educação bancária). É muito comum alguns alunos não saberem lidar com esse tipo de postura, mas os que entendem a filosofia do projeto logo se tornam pessoas de grande iniciativa.

 Qual a influência da pedagogia paulofreiriana no cotidiano do projeto?

Kílvia: Paulo Freire buscava,inicialmente, reduzir as barreiras entre professor e aluno,acredito que o fato do corpo docente de nosso Curso ser formado ainda por universitários facilita o diálogo,já que todos somos estudantes. Nosso brilhante professor buscava demonstrar que ensinar não é apenas  transmitir conhecimentos, e sim incentivar a produção do saber ao possibilitar o fortalecimento do pensamento crítico não estando o aluno restrito ao conhecimento contido em livros.

Como funciona o Curso e há quanto tempo existe?

Kílvia: O Curso Pré-Vestibular Paulo Freire completou em 2010 dez anos. Atualmente,nosso Curso conta com 24 professores,todos estudantes da Universidade Federal de diferentes  cursos: Engenharia, Direito, Matemática, História, Ciências Biológicas, por exemplo.

Deivison: O Curso funciona essencialmente aos finais de semana, cada professor é responsável por ministrar uma aula de 50 minutos. Além das aulas, os professores também são responsáveis por pequenas tarefas burocráticas e/ou logísticas, exemplos são: participação em reuniões obrigatórias sobre as decisões do Curso; exercício de outros cargos além do de professor para o bom andamento do projeto; participação em dia de limpeza; e por aí vai...

Qual o perfil dos professores, isto é, qual o perfil de quem se dedica ao trabalho voluntário?

Kílvia: Acredito que há diversos aspectos  perceptíveis naqueles que se dedicam ao trabalho voluntário. Segundo definição das Nações Unidas, "o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos...".

Participativo e solidário. Estes são os adjetivos que melhor qualificam os que se dedicam a transformar não apenas sua realidade social, bem como  a de seus semelhantes.

Deivison: A primeira característica que precisa ter é identificação com a proposta do Projeto, não são todos que se candidatam a participar do Curso que conseguem ter uma identificação verdadeira.  Saber da importância do trabalho voluntário já é um bom passo. Mas identificação com a proposta não é uma coisa que se estuda, ou se treina. Ou você entende a importância do Projeto, ou não.

Como se dá o processo seletivo?

Deivison: Geralmente é da seguinte maneira: nós analisamos que vagas precisarão ser preenchidas, e junto com todos os professores montamos o edital para o processo. Então passamos a seguir um cronograma pré-estabelecido.  

Kílvia: Nosso processo seletivo ocorre, em geral, semestralmente de acordo com as necessidades do quadro de professores e  é composto de  três fases: avaliação escrita,avaliação oral e entrevista.

Na prova escrita busca-se observar os conhecimentos teóricos dos candidatos,na avaliação oral,a meu ver a de maior importância, pretende-se examinar a metodologia destes em sala de aula e a entrevista representa uma conversa informal da banca  com o candidato a fim de apresentar o projeto e prever a adequação do candidato ao Curso. Os candidatos são analisados em todos os quesitos e  torna-se aprovado aquele que melhor atender ao perfil do docente paulofreiriano.

Quando haverá nova seleção, como e onde se faz a inscrição?

Kílvia: Nosso projeto está com  inscrições abertas  para  seleção de novos professores desde o último dia 02 ,sendo estas encerradas no próximo dia 12 de maio. As inscrições estão sendo realizadas no horário de 8:00 às 20:00h exclusivamente na livraria Fort Livros localizada na Faculdade de Direito da UFC – Rua Meton de Alencar s/n,Centro (em frente à Praça da Bandeira e próximo ao IJF). As inscrições poderão ser feitas pelo próprio candidato ou por qualquer outra pessoa que o represente,desde que na ficha de inscrição conste a assinatura original do candidato. A documentação necessária é a seguinte: ficha de inscrição preenchida (disponível em nosso blog), fotocópia do documento RG e CPF, comprovante de matrícula em qualquer um dos cursos da Universidade Federal do Ceará(válido também o histórico impresso do Módulo Acadêmico). Participem!

Deivison: Para se ter maiores informações, aconselho aos interessados a leitura do edital que pode ser baixado no blog do Curso.

Qual o e-mail ou site que os interessados podem utilizar para conhecer melhor o projeto?

Kílvia: Nosso projeto conta com duas formas de correspondência eletrônica: nosso blog(http://www.cursopaulofreire.blogspot.com/) e nosso site (www.cursopaulofreire .ufc.br).

É válido também fazer um convite a todos aqueles que pretendem conhecer nosso projeto: todos os finais de semana temos aulas, portanto aqueles que tiverem interesse em compartilhar experiências com nossos professores sintam-se convidados.

Aula de campo no Centro de Fortaleza

Quais são os planos do Curso para este ano?

Kílvia: O Curso Paulo Freire tem sempre grandes desafios. Neste ano,temos o interesse de efetivar nosso Laboratório de Redação,tendo em vista a importância da produção textual neste novo modelo de seletividade.No presente edital há uma vaga para corretor de Redação no intuito de sanar essa deficiência produtiva, além de incentivar o interesse de nossos alunos pela leitura.

Além disso, nosso projeto proporciona aulas preparatórias para Olimpíadas de Matemática, buscando fomentar o interesse do corpo discente pela disciplina, bem como articular o raciocínio e a percepção  sobre cálculos.

Deivison: Desde a adoção do Novo-Enem como vestibular, o Curso vem passando por um período de readaptação, as experiências ainda são muito novas. Algumas ideias já foram colocadas em práticas e, outras não. Objetivo maior é sempre aumentar a interação entre aluno-professor, e tirar boas experiências para que possamos crescer cada vez mais.

O GRUPE agradece aos diretores do projeto, que gentilmente concederam esta entrevista.