segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Aumenta número de trabalhadores que precisam faltar por motivos ligados à saúde

"Faltei ao trabalho duas vezes neste ano", conta a cozinheira Rosilda Maria da Silva, 40. "Minha filha estava doente e precisei levá-la ao médico", justifica.

Ela lembra que, nas duas ocasiões, avisou o chefe e levou atestado de saúde no dia seguinte. Em 2010, diz, não perdeu um só dia de trabalho.

Uma pesquisa nacional do Sesi (Serviço Social da Indústria) que perguntou para os empregados quantos dias eles haviam faltado nos últimos 12 meses por problemas relacionados a saúde aponta uma tendência de alta no absenteísmo dos trabalhadores.

Dos 153.626 que responderam ao questionário entre janeiro e agosto deste ano, 32,5% relataram que deixaram de trabalhar por pelo menos um dia. A média histórica é de 30,7%. No Estado de São Paulo, houve ainda alta discreta no número de empregados que faltam seis ou mais dias (veja tabela na pág. 2).

Embora o estudo retrate apenas um setor de atividade, o industrial, e seja feito em empresas diferentes a cada ano, consultores de recursos humanos estendem a percepção de aumento do número de ausentes para o mercado de trabalho em geral.

Para a consultora da Lens & Minarelli Mariá Giuliese, "esse tema tem crescido em importância". Ela conta que ouve falar sobre faltas com mais frequência em palestras.

Andrea Huggard Caine, diretora da consultoria que leva o seu sobrenome, diz que, para empresas que trabalham com número restrito de empregados, o absenteísmo "é crucial, mortal".

EXCESSO
Quem falta sem justificar pode ter os valores dos períodos não trabalhados descontados. Além disso, segundo o advogado Eli Alves da Silva, se as ausências se acumulam, caracteriza-se o não cumprimento das obrigações do empregado, e a empresa consegue demiti-lo por justa causa. Para isso, é preciso "caracterizar as advertências" para não se interpretar que houve "perdão tácito".

FLEXIBILIDADE
Dar ao empregado a liberdade para entrar no trabalho e sair dele nos horários que lhe forem mais convenientes pode ser uma maneira eficaz de diminuir as faltas, dizem analistas de RH.

Para Henrique Gamba, gerente da consultoria Hays, "ter flexibilidade deixa o trabalhador mais feliz".

Ele observa que, com esse modelo, o empregado poderá, por exemplo, evitar picos de congestionamento para ir para o trabalho e quando voltar para casa.

Alexandre Rezende/Folhapress
Melissa Martins pode escolher o horário que entra no trabalho
Melissa Martins pode escolher o horário que entra no trabalho

Gamba afirma que o mesmo efeito pode ser obtido com o trabalho em casa --a exceção são pessoas que gostam do ambiente corporativo e preferem estar na empresa.

Nelma de Almeida Prado, sócia da consultoria Search, de RH, avalia que a flexibilidade de horários "diminui o nível de estresse" e chega até a evitar algumas doenças ocupacionais que levam a um aumento de faltas.

PRAZOS
Nelson Moreira do Carmo, 41, analista de sistemas, trabalha de casa com flexibilidade de horários. "Hoje, tenho prazos para entregar tarefas", explica.

O profissional conta que, durante dez anos, teve de obedecer a horários rígidos de entrada e de saída na sede da empresa.

Ele estima que perdia cerca de dez dias de trabalho por ano em decorrência de dores causadas por uma hérnia de disco. Com a nova rotina, as faltas "praticamente não existem mais", ressalta.

Prado, da Search, acrescenta que horários flexíveis dão disponibilidade para o empregado poder se organizar melhor e, assim, "administrar assuntos pessoais e profissionais".

É o que acontece com Melissa Martins, 32, analista de marketing da Levi's Brasil. Nesse arranjo, exemplifica, é mais fácil levar o carro para a inspeção veicular.

Martins, que já trabalhou em esquemas mais tradicionais, considera que poder escolher o horário faz com que as faltas diminuam.

Sem flexibilidade --mesmo se, depois de negociar, o chefe não permitir que o funcionário saia para o compromisso pessoal--, "não resta opção a não ser faltar", frisa.

Fonte: Felipe Gutierrez, Folha online

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