Para o BC, aumento de salários pode não ser compatível com aumento da produtividade. Foto: ACS/Bacen |
O Banco Central divulgou nesta quarta-feira (29) seu relatório trimestral de inflação, o documento mais amplo e aprofundado com análises do BC, em que faz previsões mais pessimistas e aponta o salário dos trabalhadores como “um risco muito importante para a dinâmica dos preços” nos próximos meses.
No documento, a diretoria do BC diz que os salários preocupam porque haverá muitas negociações de reajustes no segundo semestre, momento em que a inflação, no acumulado em doze meses, estará acima do limite máximo autoimposto pelo governo. Afirma ainda que a correção prevista do salário mínimo para os próximos anos pode ter impacto nos preços.
No projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2012 que mandou ao Congresso em abril e pode ser votada nesta quarta-feira na Comissão Mista de Orçamento, o governo propôs um mínimo de R$ 616 no ano que vem. O valor resulta de uma fórmula: crescimento econômico do Brasil em 2010 mais inflação. No total, reajuste de 13% dos R$ 545 atuais.
No relatório, o BC diz ainda que o mercado de trabalho está aquecido, com taxa de desemprego em patamar historicamente baixo e “substanciais” aumentos salariais. E que isso também pode ter impacto inflacionário.
“Um aspecto crucial em ciclos como o atual é a possibilidade de que o aquecimento no mercado de trabalho leve à concessão de aumentos reais dos salários em níveis não compatíveis com o crescimento da produtividade, o que, de acordo com algumas evidências disponíveis, aparentemente tem ocorrido em certos setores”, afirma.
No documento, o BC apresenta previsões de inflação futura, com base em cenários distintos. No chamado cenário de referência, a taxa de juros de 12,25%, a maior do planeta, fica congelada daqui até o fim do ano que vem. Neste caso, a inflação seria de 5,8% em 2011 e de 4,8% em 2012. Os dois valores estão acima do calculado no relatório trimestral de março (5,6% e 4,8%, respectivamente).
No cenário de “mercado”, o BC segue as apostas do “mercado” e continua a subir a taxa de juros. Neste caso, a inflação seria de 5,8% este ano e de 4,9%, no próximo. Em março, as previsões eram de 5,6% e 4,6%.
As perspectivas pioraram de um relatório para o outro, segundo o BC, por algumas razões. No plano interno, por exemplo, a inflação passada está alimentando a inflação futura, e o esfriamento da economia ainda não pode ser calculado com exatidão.
No cenário externo, o banco acredita que a atividade econômica chinesa traz incertezas que deixam os investidores inseguros.
Fonte: Correio do Brasil, com Carta Maior
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