PORTO VELHO - As análises dos primeiros relatos colhidos pelo Ministério Público do Trabalho de Rondônia apontam que o quebra-quebra da semana passada nos canteiros de obras da usina de Jirau, no rio Madeira, foi resultado de uma "tensão longa e reprimida" nos alojamentos isolados na floresta amazônica. Em paralelo ao clima de tensão nos alojamentos, havia uma disputa velada entre sindicalistas de Rondônia e do Pará, Estado de origem de boa parte dos operários.
Diretores do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Rondônia (Sticcero) chegaram a sugerir, em conversas com a Justiça do Trabalho, que os primeiros tumultos registrados em Jirau foram incentivados de alguma maneira por representantes do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Pesada do Pará (Sintrapav), que monta um escritório em Rondônia. "O clima entre os sindicatos não está bom. Eles estão brigando na Justiça para saber quem tem representatividade", afirmou o procurador regional do Trabalho, Francisco Cruz.
O procurador admite, depois de ouvir operários e percorrer a área destruída do canteiro, que não havia trabalho degradante e que as empresas ofereceram alojamentos adequados para os funcionários. Mas informou que foram abertos procedimentos de investigação para apurar reclamações de tratamentos desrespeitosos por parte de encarregados e seguranças: "Havia um foco de tensão reprimida, e as empresas não sentiram isso."
Outros direitos. Ele disse que ainda está sendo avaliado um possível impacto da pressa das empresas em concluir as obras para o clima de tensão nos canteiros. Uma das pendências já detectadas é a falta de pagamento da "hora itínere", tempo gasto pelo trabalhador sem alojamento para chegar a um local de trabalho distante. Serão ainda analisadas questões como hora extra, jornada de trabalho, cesta básica e garantias de visitas a familiares.
O Ministério Público do Trabalho está analisando "fatores" apontados pelos trabalhadores como as causas dos incêndios e quebradeiras que destruíram mais de 40 ônibus, uma dezena de carros pequenos, refeitórios, caixas bancários e escritórios.
Na avaliação do procurador, as empresas não montaram um canal para os operários apresentarem reclamações sobre a atuação de seguranças, encarregados e motoristas. "A briga entre um operário e um motorista, na terça-feira passada, foi apenas a gota d’água de um problema", afirmou. Ficou nítida, afirmou Cruz, a falta de receptividade das construtoras ao trabalho de sindicalistas e a formação de lideranças de trabalhadores.
O paraense Juracy da Cruz Ribeiro, 30 anos, estava no alojamento quando começou o conflito. "Foi um grupo negociar com os encarregados, mas logo chegaram seguranças e policiais." À noite, relatou, "fomos avisados pelo pessoal de outros alojamentos que era para tirar tudo porque o fogo ia comer." Outro operário que estava em Jirau, o capixaba José Carlos Lima, 36 anos, disse que sindicatos não apareciam nos alojamentos. "O sindicalista que quisesse aparecer tinha de ficar do lado de fora, no asfalto, para conversar com a gente", relatou.
Por Leonencio Nossa, enviado especial de O Estado de S.Paulo
Fonte: http://www.estadao.com.br/
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