sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Dica de filme: Carne e Osso

Neste mês de novembro, o GRUPE sugere aos seus leitores o documentário brasileiro "Carne e Osso". A produção exibe o trabalho desgastante na indústria frigorífica nacional, a exigência por produtividade e as doenças laborais existentes em virtude dessa jornada estafante. Mais adiante, segue notícia publicada no site do TRT3 sobre o assunto:



 
Com apresentação do documentário "Carne e Osso", a Escola Judicial do TRT de Minas estreou nesta sexta (23/09/11), no auditório do Tribunal, em Belo Horizonte, o Projeto Direito e Cinema. Depois da exibição, o diretor do filme, Caio Cavechini, comentou e discutiu a obra com o diversificado público presente. Produzido pela Ong Repórter Brasil, o filme expõe imagens do trabalho cotidiano na indústria frigorífica brasileira, ilustrando os depoimentos melancólicos de trabalhadores acometidos de doenças em virtude do trabalho repetitivo, com exigência de exagerada produtividade. "O filme mostra como a exigência de produtividade elevadíssima, num setor importante da nossa economia, tem provocado o adoecimento dos trabalhadores em níveis bem acima dos de outras atividades", esclarece o cineasta.

A realidade, nua e crua, de produção acelerada, com movimentos repetitivos, comparáveis às imagens do "Tempos Modernos", de Charles Chaplin, era desconhecida de quase toda a plateia. Rogério Machado da Silva, que é representante comercial com formação em Direito, por exemplo, disse que o documentário é chocante, mas esclarecedor. Ele não tinha ideia da realidade mostrada. "Até então, tinha conhecimento de coisa semelhante somente no trabalho em carvoarias, canaviais e cafezais", confessa ele. Segundo o juiz substituto Fabiano Gomes de Oliveira, o filme trouxe uma realidade que ele também desconhecia. "Eu nunca tinha visto um vídeo que, tecnicamente falando, se aproximasse tanto da realidade trabalhista", completa ele.

Excesso de jornada sem contraprestação, limite de tempo e de vezes para ir ao banheiro, proibição de conversa, dispensa com o surgimento de doenças e ameaça de dispensa de parentes em caso de reclamação judicial, tudo isso foi denunciado. Um depoente afirmou: "Com saúde, serve, sem saúde, você é um estorvo"; outra constou que quanto mais ela dava conta do serviço, "mais eles queriam que a produção fosse aumentando". Outra testemunhou que a pressão era muito grande, "que chegava a tremer quando vinham para cobrar, e guardava tudo sem nada reclamar".

O documentário informa sobre o mapa epidemiológico nas indústrias de produtos bovinos e de abate de aves e suínos, como números assustadores e efetivamente mais elevados que os de outras atividades. São dados oficiais da previdência social, cuja gravidade é realçada por depoimentos de profissionais de saúde e juristas, inclusive do desembargador Sebastião Geraldo de Oliveira, deste Regional.

E os relatos tristes, de trabalhadores infelizes e até envergonhados por não serem mais produtivos, destrói o mito absurdo, sustentado por muitos, de que eles se beneficiam da doença por estarem afastados do trabalho. As lágrimas incontidas e o sofrimento estampado em cada rosto não permitem qualquer dúvida. E a maior repercussão do filme, que levou dois anos para ficar pronto, aconteceu, segundo o cineasta, no sindicalismo profissional, queixando-se da falta de participação, o que é despropositado, na visão do diretor, em vista da ausência de representatividade, ausência essa que, por certo, contribui para a consolidação da forma de produção denunciada.




Caio Cavechini dirigiu o média "Correntes" e o Longa "Antes, Um Dia, e Depois", exibidos em festivais no Brasil e no exterior. Ele recebeu o prêmio Vladmir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e foi o responsável pelo projeto "Pegada Ecológica", vencedor do Pitching Social do Canal Futura. Desde 2006, é repórter, editor e roteirista do programa "Profissão Repórter", da Rede Globo. Já recebeu quatro prêmios jornalísticos. Cavechini assina os roteiros dos documentários "Sequestro", de Wolney Atalla, premiado no Cine PE 2010, e "Porta a Porta". Também dirigiu o curta "A Casa da Vó Neyde", que este ano participa da seleção oficial do Festival de Cinema de Brasília. Carne e osso, exibido hoje [23/09/11] no TRT, foi premiado como melhor documentário pelo Júri Popular no DOC-FAM (Festival de Audiovisual do Mercosul) e selecionado para os festivais de cinema É Tudo Verdade e de Gramado, no Brasil, além de outros três festivais internacionais. (Walter Sales).

Fonte: TRT3

Nenhum comentário:

Postar um comentário