segunda-feira, 25 de abril de 2011

Greve sem previsão para acabar


Terminou sem acordo a reunião entre representantes do sindicato de trabalhadores e da indústria da construção civil. Lideranças das duas partes sentaram-se à mesa ontem para tentar acordo na Superintendência Regional do Trabalho. Uma nova reunião foi marcada para a próxima quarta.
Representantes dos trabalhadores afirmam que a greve vai continuar na próxima segunda-feira, 23. Os empresários recorreram à Justiça pedindo a ilegalidade da paralisação e aguardam decisão judicial.
Ontem, o Tribunal Regional do Trabalho expediu medida cautelar de abusividade de greve. A medida determina que os grevistas evitem atos depredatórios, manifestações a uma distância menor que 200 metros de algum canteiro de obra, comportamento violento e impedimento de outros servidores executarem o trabalho.
A infração prevista para atos violentos e depredação é multa diária de R$ 50 mil; para as demais ilegalidades a multa é de R$ 10 mil.
O supervisor regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Reginaldo Aguiar, afirma que representantes da indústria da construção civil usam argumentos estatísticos ultrapassados. “O setor (da construção civil) está visivelmente aquecido. Os números que apresentam não se justificam hoje”, argumenta.
O presidente do Sindicato da Indústria de Construção Civil do Ceará (Sinduscon), Roberto Sérgio, alega que as reivindicações trabalhistas são números “fora da realidade”. “Nós oferecemos 7,5%, acima da inflação (6,5%). O número que eles querem (17%) é quase três vezes a inflação. Sem capacidade”, rebate Roberto Sérgio.
Além do reajuste salarial, os trabalhadores requerem plano de saúde, cesta básica de R$ 50 ao mês e redução da jornada de trabalho de 42,5 horas para 40 horas semanais. O setor industrial oferta reajuste de 7,53% e cesta básica de R$ 25 ao mês.
Em valores salariais, o piso de pedreiro é R$ 800. Com o reajuste oferecido pelos industrialistas, ele seria R$ 860; se o sindicato dos trabalhadores da construção civil tiver a reivindicação atendida, o salário será R$ 936.
O sindicato dos trabalhadores acrescentaram à pauta de reclamações as condições trabalhistas. “Hoje tem trabalhadores sendo levado em caçamba, jornada de trabalho em excesso, alimentação de baixa qualidade. Isso, hoje em dia, é impensável”, afirma Reginaldo Aguiar. Roberto Sérgio nega as irregularidades. “Não aprovamos que haja precariedade. As empresas estão abertas para falar sobre isso.

Prejuízos

Em nota à imprensa, o Sinduscon afirma que 11 obras foram alvo de depredações, supostamente praticada pelos grevistas. De acordo com Roberto Sérgio, em uma das obras já periciada, o prejuízo soma R$ 200 mil. “Em greve todo mundo sai no prejuízo. Os empresários, por conta das paralisações, e os trabalhadores, que deixam de receber diária, décimo terceiro proporcional e outros benefícios”, afirma o presidente do Sinduscon.


ENTENDA A NOTÍCIA

Sem acordo, os trabalhadores prometem continuar as manifestações grevistas na próxima segunda-feira. A paralisação é um freio no setor que mais cresceu no Ceará em 2010 e pode afetar obras no estádio Presidente Vargas.

BASTIDORES

A auditora fiscal do Trabalho, Jaritza Jucá, intermediadora do debate na Superintendência Regional do Trabalho, diz que o diálogo foi “bastante tenso”. “Com o tempo as partes foram se acalmando, mas o começo foi bastante tenso.”
Ainda de acordo com Jaritza, “o primeiro debate foi bom para o amadurecimento dos dois lados”. “A conversa hoje foi no sentido de estender o debate. No próximo poderemos chegar a um acordo coletivo.”
Sobre as acusações de vandalismo e violência dos grevistas, a assessoria de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil diz que a orientação é realizar um protesto “calmo e pacífico”.

Por André Teixeira
andretb@opovo.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário